domingo, 31 de dezembro de 2017

Design Paramétrico sem uso de Software Dedicado:

Mesa de Centro FX (Função de X)


Dados Técnicos:

Dimensões: 90cm (Largura) x 47cm (Altura) x 90cm (Profundidade)
Peso: 10k
Matéria Prima: Sarrafos de Cedrinho Reciclados
Biblioteca 3D SkechUp: Download do Modelo AQUI!!!

Vocabulário:

Matemática, Função, Design, Marcenaria, Carpintaria, Artesanal, Arte, Improviso, Sustentabilidade, Provocação, Desafio, etc.

Conceito: 

Usar um código matemático para fazer design! Segue a linha do Design Paramétrico, porém sem o uso de software específico, ou seja, foi feito na raça a moda antiga com a ajuda do SketchUp para variar.


Coordenadas Cartesianas Tridimensionais.
As formas desta peça foram criadas à partir destas três funções de primeiro grau que definiram as coordenadas cartesianas tridimensionais (x, y, z)  que regraram o movimento que desfigurou esta figura (quadrado) inicial.


Figura inicial.
Comecei a movimentar a ponta inferior direita deste quadrado conforme a primeira coordenada da tabela: 
X (Direita = positivo e Esquerda= negativo) ------------0cm
Y (Frente =  positivo e Trás = negativo)------------------(-10cm)
Z (Cima = positivo e Baixo = negativo)------------------3cm

Depois movimentei o ponto inferior esquerdo com a segunda coordenada e continuei fazendo o mesmo seguindo o giro sentido horário.

O resultado foi esta figura a seguir:

Com esta figura usei a ferramenta Siga-me do SketchUp para usar o contorno como modelo:

Depois apaguei os riscos e obtive esta figura que pintei de amarelo:

Por fim multipliquei esta mesma figura (peça) por quatro girando em +90 graus cada uma:

Este foi o resultado final obtido:


Depois resolvi fazer uma segunda versão melhorada com sarrafos mais finos e resolvi a questão do posicionamento das peças para fortalecer a estrutura:





Protótipo com Retalhos de MDF de 15mm:

Fiz esta experimentação usando o MDF para testar os ângulos, mas acabei errando um que modificou todo o resultado plástico da peça, mas serviu para provar que a peça era executável.










Mais uma peça para a coleção. hehehe

Protótipo com Madeira Maciça (Cedrinho):

Agora nesta segunda tentativa acertei o ângulo conforme a proposta 3D e consegui alcançar o resultado desejado com extremo sucesso. Agora só falta cavilhar e pintar a gosto.







Resultado final sem Acabamento e sem o Tampo de Vidro.


Esta peça foi o meu maior desafio até o momento, toda vez que olho pra ela fico hipnotizado. hehehe

Associação: Estrela ou Aranha.


Luiz Mariano 

AUTODIDATA apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, arte, debate, filosofia, etc...

Participem também de nossos grupos no Facebook:




sábado, 30 de dezembro de 2017

Mercado pós-crise.



Estamos aqui na véspera de virar o ano e entrar em 2018 que promete ser mais leve. Acredito que a retomada do crescimento de nosso país seja lento, porém crescente e sem grandes solavancos. Fica evidente que o povo cansou de falar de crise, se acalmou e agora cada um esta passando a tocar sua vida da melhor forma possível. Não gosto de ser pessimista, mas percebo que passamos por tudo isso atoa, toda essa briga contra a corrupção e as prisões “para Inglês ver” apenas serviram para tirar o poder das mãos de uns e passar para as mãos de outros, nada mudou, nada mudará. A corrupção é um problema cultural no Brasil, é congênito, o povo é corrupto. Quero estar errado, quem sabe tudo isso foi o despertar de uma nova consciência, né?

Agora nos resta ponderar sobre os efeitos da crise no comportamento dos consumidores...

Uma das características da minha geração, os millennials (a geração Y, pessoas nascidos entre 1980 e 1990) é a ansiedade exacerbada, mania de grandeza, dependência pela tecnologia e vício com redes sociais, uma enorme capacidade intelectual podada por uma personalidade dramática, sensível, que não gosta de ser contrariado nem a pau, geração MIMIMI como é chamada. Tal geração que está beirando os 40 anos agora e começando a sair da casa dos pais sofreram a experiência de sua primeira grande crise. Tinham uma autoestima e expectativa super elevadas, achavam que iam mudar o mundo, criar negócios fantásticos, trabalhar só naquilo que realmente gostavam e acreditavam e tal. Mas os anos passaram e a maioria desses grandes heróis não conseguiram nem comprar uma casa própria e ter a tão sonhada independência financeira, quem dirá a independência emocional. Pra falar a verdade o emocional é o seu grande ponto fraco, o Calcanhar de Aquiles, pois realmente criaram grandes e inovadores negócios, realmente eram intelectualmente mais capacitados que seus pais e avós, porem a falta de capacidade de gerir o seu próprio emocional e de seus colaboradores acabaram minando seus resultados. Falo por experiência própria, pois sou um desses millennials frustrado de merda que se achava o tal e se fudeu gostoso. Kekekeke

Estou focando na geração Y porquê esta geração é a que está agora entrando no topo dos consumidores em potencial e entender como suas cabeças funcionam é de vital importância ao sucesso dos negócios. É uma geração de mimados bem informados devido à Internet e Redes Sociais que vão a todo custo querer provar que ter informação é sinônimo de inteligência, mas não sabem digerir tantos dados e ficam perdidos nas mãos dos influenciadores digitais fakes maquiavélicos demoníacos (odeio eles e quero que queimem no inferno, kekekeke, zueira) e vão chegar ensinando o profissional como fazer o serviço, não são consumidores pacíficos que aceitam tudo sem questionar, questionam até de forma agressiva e desrespeitosa cada detalhe sem nem mesmo perceberem tal falha de postura. Nessa onda as outras gerações anteriores também embarcaram de cabeça, então devemos sempre ser sinceros e prever reações devido ao senso comum criado pelas redes, tolerar o comportamento e deixar de ser igualmente emocionalmente fraco, não dê tanta importância para o que os clientes dizem que possa te afetar, pense sempre que se trata de um negócio, seja firme o suficiente para agregar valor, mas não tão firme que possa fazer o cliente ter um ataque de MIMIMI e perder o negócio. Kkkk Costumo dizer que temos muito a aprender com a postura autocrata da geração X que tem certeza de tudo o que faz mesmo estando totalmente errados e saem derrubando qualquer pessoa que ficar na frente, devemos usar uma pitada disto em nossos temperos. Nem sempre as pessoas vão concordar com a gente, e se tratando de negócios, quase nunca, sempre vão querer tirar proveito de nossa necessidade de fazer tudo certinho, pelo menos na nossa ingênua visão idealista de merda.

Outra característica marcante dos millennials é a necessidade de gerir múltiplas tarefas, eles não conseguem focar num só projeto por vez, não conseguem ou não gostam. Não vejo problema algum nisso, costumo defender que devemos ter uma atividade que pague as contas e tentar ter o máximo de tempo livre para testar novas ideias sem esse compromisso sufocante de obter resultados financeiros.

Seção auto ajuda... Repete comigo: Deu tudo errado no seu plano mirabolante de ficar rico salvando o mundo? Foda-se! Hehehe
Sim... É hora de diminuir as expectativas e por conseqüência a ansiedade, dar uma pausa nas idéias grandiosas e revolucionárias e passar a dar valor nas coisas simples da vida, no poder do trabalho diário de subir um degrau por dia, sem pressa, construir algo grande ainda, mas um tijolo por vez. Dar valor no que já conquistou, revisar os erros do passado, recuar, reduzir custos, aprender o valor da humildade não deixando o ego e a capacidade de sonhar ser afetado pela crise.

Dinheiro deixou de ser anjo ou demônio e passou a ser apenas uma necessidade básica!

 Estudos demonstram que agora todo mundo vai parar de se endividar tanto e vão passar a esperar ter condições reais, dinheiro no bolso, para dar um passo maior. Eu mesmo consegui reverter minha caótica situação financeira paralisando e isolando os erros do passado no passado, dando mais atenção para o que estava dando resultados favoráveis, dispensando todos os funcionários e passando a trabalhar completamente sozinho e reduzindo todos os custos possíveis. Estou atendendo um cliente de cada vez e fazendo atividades que me trazem paz e prazer, porém sem retorno financeiro, em paralelo para esfriar a cabeça e parar de ser tão obcecado com o negócio como eu era antes. Parei de dar importância e de até incentivar as críticas de parentes, amigos e conhecidos que não pagavam minhas contas e não ajudavam em nada, como também aos palpites e mais palpites dos clientes que adoravam me ensinar a tocar meu negócio sem real experiência alguma sobre a causa e tal. Questão de amadurecimento ao meu ver, eu queria ser perfeito, agradar todo mundo, mas agora sei e aceito que isso é impossível, que o que realmente importa são resultados favoráveis dentro da maior ética possível.

Não basta fazer o certo, a coisa tem que dar certo!

A grande sacada agora para o universo da marcenaria sob medida, design de interiores e arquitetura é deixar a idéia de fazer volume e ter estrutura física inchada de lado e passar a valorizar o lucro real fugindo de faturamento bruto elevado somado a um alto grau de responsabilidade e risco. Nunca o termo “menos é mais” foi tão adequado. É tempo de pés no chão, de agregar valor subliminar, intangível, aos produtos e serviços ao invés de se aventurar em grandes jogadas, automação, expansão, contratação, empréstimos, etc. E os consumidores já estão fazendo o mesmo. ECONOMIZAR é palavra chave! Devemos crescer em QUALIDADE, não em quantidade. Se posso lucrar mil vendendo 10 mil, por que vou correr o risco de ter prejuízo vendendo 100 mil? Não adianta querer produzir algo que vá competir diretamente com as grandes indústrias automatizadas e tentar fazer volume na base de sacrifícios, devemos fazer aquilo que as indústrias não conseguem fazer, atender necessidades que é impossível ou inviável a elas por N motivos. Chega de pensar como modernista foco, força e fé e passar enxergar as possibilidades que uma atuação pós-moderna pode trazer, algo que segue a estética modernista contemporânea, porém seguindo processos mais sob medida, respeitando mais o individualismo, atendendo nichos mais específicos de gosto mais refinado, uma pegada mais artesanal até. Mais humana, menos máquina e processo.  

Consumo consciente, adquirir apenas o que é realmente necessário às necessidades diretas e indiretas, uma nova visão onde ter experiências passou a ser mais importante que acumular bens, tudo isso são mais características desta geração Y, questão está que está totalmente certa, devemos parar de entrar em conflito com os valores das gerações anteriores em nossa cabeça e viver o melhor possível do jeito que a gente é, nos aceitar, nos firmar, é isso aí! Hehehe E com isso preparar um mundo mais leve para nossos filhos, com menos cobranças, menos ganância, menos, menos... Maior qualidade de vida, lembrando que tudo é uma questão de percepção, até a realidade.

Não! Não vou abordar temas pseudo religiosos/espirituais, pois acredito que o momento de fazer as pazes com o universo místico já foi, 2018 é hora de se voltar ao plano físico caindo de cabeça na realidade, no concreto, tendo em vista que se estamos no plano físico é obvio que temos um fundamento a cumprir com ele, então mãos à obra e chega de esperar que Deus resolva todos os nossos problemas, o máximo que podemos fazer é pedir força e partir para a ação sem euforia. Fato fractal áureo. Muito louvável da parte dos millennials esta retomada às preocupações espirituais, busca pela verdade metafísica e tal, mas essa mesma verdade nos revela que é hora de cair na real, buscar um equilíbrio entre espiritual e físico, somar tudo e viver melhor em todos os campos, em todos os aspectos. Busque o equilíbrio entre seu lado negativo e o positivo, seja um ser completo, coloque a mão esquerda pra trabalhar junto com a direita, os dois olhos fixos num foco e atento a visão periférica. hehehe

O ser humano é um todo, não é apenas metade ou uma parte! 
TOTALIDADE! INDIVIDUAÇÃO!!!

FELIZ ANO NOVO CAMBADA DE VAGABUNDAÇOS! KEKEKEKE


Santo André, 30 de Dezembro de 2017.

Autodidata apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, filosofia, comunicação, etc... Pela vida!

Grupo do Facebook: Marcenaria BRASIL


Artesanato Urbano + Design Autoral

Banco do Paraíba


Apresento o Banco do Paraíba, uma criação de cunho artístico autoral assinado por mim que une Design e Artesanato Urbano, no caso Crochê que fiz com minhas próprias mãos. Aprendi fazer crochê e tricô com minha mãe por volta dos 8 anos de idade quando morava em Chapecó, SC. Ela me ensinou escondido do meu padastro que era machista e desde então pouquíssimas pessoas souberam disso. kekekeke

Existem muitos preconceitos nesta sociedade e eu sempre achei que os "preconceitos menores", aqueles cotidianos e banais provenientes da maldade subliminar das boas pessoas de bem ......São as que mais fodem nossas vidas! Fato fractal áureo!!! hehehe Mas hoje em dia até nas cadeias presos machos pra KCT fazem crochê, tricô e vários outros artesanatos para manter a sanidade dentro do possível. Vai dizer pra essa turma que isso é coisa de muiezinha e de desocupado fresco, vai! kekekee

Quem é hétero sofre muito preconceito no universo do design, arquitetura e artes devido ao fato desta área possuir mais mulheres e gay's dominando. Pessoalzinho este bastante encrenqueiro e invejosos que adoram perseguir qualquer pessoa que se mostre mais talentoso do que eles, passam a vida copiando o que os outros fazem, louvando os grandes e derrubando os pequenos. Sei disso por experiência própria. Mas não devo generalizar, claro, porém é uma questão de percepção, digamos assim, estatística qualitativa. rsrsrsrs Vejo isso como grande ferramenta de desmotivação, pois tem muito homem criativo se ocultando em atividades repetitivas e maçantes tidas como coisa de macho para não ter seu ego atacado por gente sem escrúpulos como estes. No fim isto representa uma perda à sociedade, ao coletivo, a meu ver. Estamos enterrando talentos por causa do preconceito, as mulheres e os gay's não respeitam os homens héteros enquanto as mães dos mesmos os criam para ser machistas e passarem a vida toda sentindo culpa e sofrendo as consequências disto. Sociedade insana de fato, problema gigantesco pouco discutido que motiva grandes tragédias. As minorias fomentam o ódio contra si mesmos, bola de neve. (...)

Mas deixemos de divagar sobre as mazelas do ser em sociedade... Porém a ideia de utilizar o artesanato urbano segue o conceito de provocar e evidenciar o preconceito da sociedade artística elitista que não enxerga valor no artesanato urbano, voltando novamente à questão do preconceito. Minha assinatura sempre foi transformar o preconceito em arte, ou melhor, transformar estímulos negativos, o senso comum e tudo mais em algo positivo, que provoque reflexão, questionamento e tal, sou um PROVOCADOR!

Tudo bem que o artesanato regional típico já está sendo explorado e valorizado pelos designers e arquitetos há tempos, se tornaram linhas de produtos de luxo assinadas por renomados, temas de TCC, defendidos em mestrados e tal... Porém minha proposta é ampliar esta visão para o artesanato urbano e o povo de periferia, também, por N motivos... INCLUSÃO SOCIAL!

Faz tempo que esta ideia de criar uma peça que une artesanato urbano com design vem martelando minha cabeça... E agora tive a oportunidade de aproveitar sobras de cordão que minha mãe me deu com umas vigas de Peroba Rosa que ganhei de uma amiga, a Marilei Molina. Tudo material de demolição como sempre. As barras de rosca foram sobras de um trabalho de marcenaria sob medida, não comprei nada, me nego a gastar dinheiro enquanto existe tanta matéria prima grátis disponível.



Quando postei estas fotos no Facebook a turma curtiu pra caramba, foi uma zueira daquelas. kekekek O objetivo era este mesmo. Poucos entenderam o que eu estava realmente fazendo, mas zuaram mesmo assim, pois é como sempre digo parafraseando um cara qualquer aí:

Zuar é preciso, viver não é! kkkk

Mosaico de Fotos do Processo Criativo e Executivo

"A Bela encontrou a Fera"

Este foi o conceito: A junção do rustico com o delicado, da carpintaria com o artesanato, tendo em vista que a marcenaria possui um acabamento mais fino e o estilo que apliquei está mais para carpintaria. Costumo dizer que a maioria das minhas criações eu faço nas "coxas", hehehe, é proposital e provocação aos marceneiros saudosistas que curtem um simulacro do KCT, se matam para ocultar emendas, parafusos, pregos, etc... Sou um Modernista Honesto, ou seja, gosto de deixar as estruturas à mostra, os métodos construtivos, usar a matéria prima como ela é sem tentar se passar por outra, usar suas supostas falhas como fator agregador de valor, de verdade e tal. E gosto princialmente de provocar aqueles xaropes que insistem em dizer que para criar uma boa cadeira, por exemplo, vai 7 anos apenas para ter coragem de sair do desenho e passar a prototipar, não vou citar nomes, só vou dizer que o mais renomado deles tem olhos puxados. kekekeke OPS

Obviamente prototipar é um jogo de erro e acertos... O ponto de crochê e o formato em círculo que escolhi não foi o mais adequado, ele estica demais e não dá estrutura para o banco que é de abrir e fechar. Fiz uma experimentação com umas sobras de corda de amarrar fórmica que tenho e ficou bom, depois usei cabo de aço de varal e resolvi o problema, ficou confortável e a turma adorou. Mas agora estou fazendo outro ponto mais fechado e já com a jogada para cobrir a barra de rosca completamente. Acredito agora que o próprio crochê vai sustentar o conjunto, vamos ver, depois posto aqui a atualização com o resultado.



Gosto de incluir minha família e amigos nas minhas criações, acabo usando eles para testar reações do público que não possui entendimento e por vícios preconceituosos do design. Este banco acabou sendo a festa na floresta, kkkkk, adoro isso. hehehe E como faço estas peças para me divertir, eis que não to nem aí se a turma na rede social, principalmente os acadêmicos, vão gostar ou vão me achar um fanfarrão. kkkk Eu sou um fanfarrão, esta é minha assinatura, sou um pseudo anarquista autodidata irônico (acabei de inventar isso).


Festa na Floresta! kkkk Banco aprovado pelo povo. hehehe Amém!!!



Mas a parte séria da minha proposta se encontra no conceito dos designers, marcenarias e indústrias de mobiliário unirem forças com os artesãos urbanos, SUSTENTABILIDADE SOCIAL, ECONÔMICA E ECOLÓGICA. Vivemos um momento de valorização do artesanato, BRASILIDADE, e maior valorização de quem fez e como fez além do produto final.
Então meus amigos...

Pretendo testar fazer uma produção em série limitada por conta própria desta peça e convidar uma boa crocheteira para atuar em parceria. Colocar em consignação em algumas lojas do seguimento aqui mesmo na minha região e tal. Como também quero fazer experimentações com outras vertentes do artesanato urbano.

Santo André, 30 de Dezembro de 2017.

Luiz Mariano
Autodidata apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, arte, filosofia, .... Pela Vida!
www.marianomoveis.com.br

Grupo do Facebook: Marcenaria BRASIL





quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Serviços de Corte... Você é Marceneiro ou Montador?














(Fonte da Imagem da Esquerda)



Serviços de Corte...

Quem acompanha os grupos de Marcenaria no Facebook já deve estar cansado deste tema que equipes de marketing insistem em levantar a todo momento, de forma até negativa, utilizando Fakes (perfis falsos) criados para brigarem entre si fomentando assim os debates/embates. O pior é saber que fui eu quem de certa forma ensinou isto a eles. kekekeke

Eu confesso que cheguei até a perder a paciência com esta gente e fui excluído dos grupos por causa deles e de alguns supostos arquitetos. Situação esta que acabou se mostrando favorável, pois eu precisava mesmo esfriar a cabeça, pois o que era pra ser uma atividade prazerosa e edificante se tornara uma arena de batalha exageradamente tola. As redes sociais de fato fomentam o egocentrismo, neuroses, esquizofrenias e mais uma porrada de distúrbios mentais... Somente ficando um tempo fora disso para se curar e voltar um pouco mas tolerante com a intolerância alheia. Mas deixemos isso pra lá.

Afinal...

Quem terceiriza o serviço de corte e acaba nem possuindo uma marcenaria física pode ser classificado como marceneiro ou é apenas um montador?

Mas qual a importância disso por um ponto de vista empresarial estratégico?

Aí já chega um marceneiro da velha guarda e esculacha:
E quem disse que quem trabalha com MDF é marceneiro de verdade? kekekekek

No meu ponto de vista o romantismo em relação à marcenaria se mostra improdutivo e pouco lucrativo, como também a falta de tal paixão pela atividade, um meio termo se faz necessário. Um empreendedor de marcenaria de verdade, aquela pessoa que quer sustentar sua família e quem sabe até vencer na vida com esta atividade, precisa tomar muito cuidado com as influências provenientes das redes sociais, principalmente porquê quem está por trás desta polêmica toda são as empresas interessadas e pessoas que não atuam na prática desta profissão e não vão sofrer as consequências.

Na minha opinião quem não é capaz de executar um móvel do começo ao fim não pode ser considerado marceneiro, pra ser marceneiro precisa pisar no chão da oficina e cafungar pó de madeira ouvindo o cantar da serra, quem compra tudo cortado é apenas um montador. Mas qual a importância disto? Qual perfil está lucrando mais? Qual perfil atende melhor o cliente?
Creio que seja aquele que sabe trabalhar, está com vontade de trabalhar e tem trabalho, simples assim!

Eu neste caso sou um reacionário saudosista masoquista, confesso, gosto de fazer eu mesmo o plano de corte, comprar a chapa inteira e picotar com minhas próprias mãos, adoro ouvir o barulho da serra, poucas coisas acalmam meu espírito e essa é uma delas. Porém seguindo uma visão mais objetiva e empreendedora acredito que o que realmente importa são os resultados positivos, pra mim funciona assim, mas para outros comprar tudo cortado funciona melhor, acredito nisso e respeito, respeito quem faz e acontece, quem tem atitude, e isso basta. Mas não me venham pedir para mudar de time e muito menos defender esta metodologia de trabalho, pois pra mim estamos novamente se tornando empregados não registrados dos industriais modernistas capitalistas, por uma ótica filosófica vejo isso como um retrocesso. Dominar todo o processo representa pra mim LIBERDADE, pode não ser eficiente, mas pode ser mais eficaz. Como assim? Simples... É possível lucrar mais produzindo menos centralizando todo o processo com estrutura física e equipe reduzida, e estender o entendimento de lucro para o ganho em qualidade de vida. Fora que em se tratando de Móveis sob Medida o ato de projetar e atender o cliente se mostra o verdadeiro calcanhar de Aquiles aos montadores de plantão, deveriam investir mais neste campo obviamente.

Pra mim a marcenaria sob medida foi e ainda é um tremendo fenômeno "pós-modernista" no entendimento de que se contrapõe a maioria das regras da produção em série (modernismo), seja em como executar, seja em como projetar e vender, universos que seguem a mesma direção, porém em sentidos opostos como só a física pode explicar, hehehe. E por um ponto de vista socioeconômico, eis que favoreceu a distribuição de renda descentralizando e dissolvendo a produção de móveis sob medida em pequenos produtores e autônomos. Marcenaria é uma atividade ao alcance de todos, fomenta a inclusão social, é verdadeiramente sustentável em suas três vertentes: Social, Econômica e Ecológica. Obviamente os grandes produtores, principalmente dos modulados não gostaram disto, mas como os fabricantes de chapas viram nisso um grande nicho de negócio, eis que deixaram o barco navegar livre, mas agora os atravessadores de insumos estão doutrinando e principalmente manipulando os marceneiros transformando estes em meros montadores reféns de sua estrutura.

A tecnologia vai engolir a atividade de marcenaria sob medida?

Resposta: Se fosse possível já o teria feito! Fato fractal áureo! A marcenaria atende várias necessidades complexas do ser humano, não só de quem consome os produtos e serviços, como de quem trabalha na área. Não é uma Galinha de Ouro, mas ao mesmo tempo, dentro de uma visão pós-moderna millennials onde a experiência é mais importante que o acúmulo de riquezas, podemos dizer que é a profissão/atividade do momento.

Vou parar por aqui, pois creio que já divaguei por demais! hehehe

Luiz Mariano
Autodidata apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, arte, filosofia, etc...

Santo André, 28 de Dezembro de 2017. (Quinta)

Grupo do Facebook: Marcenaria BRASIL





domingo, 2 de julho de 2017

Tamponamento é crime!

Postei uma provocação/brincadeira no grupo Marcenaria BRASIL associando tamponamento, história da arquitetura e preocupação ecológica e os camaradas piraram. (Gargalhadas espalhafatosas e sinceras, kkkk).

Eis o limiar do CAOS:

“[Modernismo ON]: Tamponamento é crime!
Tapa-furo adesivo é honestidade!!
Vamos deixar as estruturas, os métodos construtivos, as ferragens à mostra!!!
Façamos das supostas falhas algo banal, cotidiano... Característica da matéria prima em questão: MDF e MDP!!!! Amem! Kkkkkkk”

O que é tamponamento?


















Tamponamento em resumo é a jogada estética, que caiu no gosto da classe média, de
revestir a caixaria dos armários com outra chapa, literalmente um caixote dentro do outro, e o tamponado cobre o topo das portas e frente de gavetas deixando-os embutidos.
A moda ainda vigente é utilizar chapa de 25mm no tamponamento, como as marcenarias possuem uma folclórica repulsa ao MDP por causa da má fama que tal matéria prima herdou do aglomerado, eis que utilizam MDF que possui quase o triplo do peso do MDP agravando ainda mais a problemática podendo ocasionar problemas de saúde nos trabalhadores.

Mas alguns já andaram experimentando tamponados de 18mm, 15mm e 9mm para proporcionar maior leveza, e outros até ensaiaram fazer rebaixos nos topos da caixaria interna de 18mm, porém tal técnica complica o fitamento das bordas entrando em conflito com as coladeiras existentes, anulando assim os benefícios da economia do matérial.
Tamponamento é um desperdício de material em prol de uma estética totalmente antagônica às preocupações atuais de salvar o planeta e o uso consciente dos recursos naturais. Isto abre uma nova demanda, um desafio, aos designers de produto em desenvolver novas jogadas, novas ferragens, alguma coisa que substitua o tamponado.

Tal jogada possui sim uma desculpa técnica além da estética, ocultar sistemas de montagem simples como parafuso de topo, anulando assim a necessidade de utilizar tapa-furo adesivo, por isso que provoquei dizendo que tapa-furo é honestidade, pois é um elemento criado exatamente para esta matéria prima contemporânea, MDF e MDP, que assume sua característica, admite suas falhas, limitações. O material já vem revestido, com acabamento, não dá pra ocultar parafusos com o revestimento como fazíamos na Marcenaria Tradicional (compensado, fórmica - laminados melanímicos de alta pressão, folhas, seladora, verniz, madeira maciça, etc.).

Sim! Existem vários sistemas de montagem que substituem o parafuso de topo com louvor ocultando as ferragens como Girofix, VB, Rastex, Rotofix, Everfix, etc (pesquisem)... Mas foquei a provocação no sistema mais simples que é utilizado pela maioria das pequenas marcenarias e autônomos de plantão. E mesmo utilizando tais sistemas as marcenarias e fabricantes de modulados continuam a tamponar, pois isso se tornou um padrão estético em móveis de médio e alto padrão.

Por outra ótica, muitos marceneiros, fabricantes, designers e arquitetos já estão deixando isto de lado e buscando novos diferenciais... Apostar em ferragens modernas como corrediças invisíveis com amortecimento, aramados, gavetas pré-fabricadas, etc... Servo Drive, Aventos, Sistema Coplanar...  Revestimentos como Silestone e Corian substituindo os granitos... Eletrodomésticos, eletrônicos, automação... Matérias primas alternativas e sustentáveis em geral...
Entre gastar dinheiro com tamponamento ou qualquer outra destas opções, eu como cliente vou optar por qualquer outra alternativa sem questionar questões pseudo ecológicas, não seria necessário tal nobre apelação para me convencer. Fato!


No que a História da Arquitetura entrou nisso?

O próprio título já está associado ao manifesto modernista “Ornamento e Crime” do Arquiteto Austríaco Adolf Loos, 1910, onde ele explica sua fervorosa aversão ao ornamento supérfluo. E segue fazendo apologia a um dos maiores fundamentos do modernismo na arquitetura de não gastar material e trabalho para ocultar estruturas, uma total fuga do simulacro, da cenografia copista de manifestações estéticas anteriores.

Depois da provocação/brincadeira inicial que abriu o tópico passei a utilizar um discurso autocrata, tirânico, para defender a idéia de anular o TAMPONAMENTO da face da Terra, criminalizando-o, demonializando-o, assim como os Modernistas Capitalistas Extremistas da Geração X e gerações anteriores fizeram e ainda fazem, ridicularizando, diminuindo, perseguindo, julgando e punindo qualquer pessoa que fique contra suas idéias, suas convicções, suas certezas.

Como no tópico anterior, em “O Fim da Tirania Arquitetônica” eu tinha atacado veemente tal postura autocrata do modernismo, neste outro tópico me utilizei contraditoriamente de tal  antagônica abordagem, eis que mesmo com as dicas estampadas, os arquitetos participantes do debate demoraram muito para entender a brincadeira, nisso seus EGOS já se afetaram e o CAOS tomou conta de suas almas apaixonadas. Hehehe

Os modernistas sempre tiveram certos, apenas a abordagem autocrática pode ter sido equivocada... Este debate apenas corroborou com minhas críticas à postura modernista/capitalista da geração X que tenta oprimir os mais jovens e seus impulsos criativos. Costumo dizer que mudar a garrafa de café de lugar não é tarefa fácil.

Porém... A grande contradição nisso tudo é que o que está fomentando a crescente atuação da geração Y e Z são as idéias da geração X. Tipo... Era só discurso crianças, não era pra tentar colocar em prática, KCT. Jesus, Maria e José... Criamos monstros! Kkkk

Os mais atentos e estudiosos podem alegar que a postura autocrática do modernismo em seu limiar foi fundamental, um mal necessário, pois uma postura democrática só funciona com espíritos mais elevados, e mesmo assim demanda maior tempo com magros resultados.
Sempre fui muito criticado por ser autodidata e levantar temas complexos em ambiente virtual. Porém em verdade vos digo: A história da arquitetura não pertence aos arquitetos, e sim à humanidade. Ninguém pode impedir um cidadão comum de consumir tal informação e aplicar seus conceitos, seja no discurso, seja na prática do seu trabalho, desde que não entre em conflito com as convenções das classes regulamentadas.

Conceituar é um privilégio de TODOS!
Responsabilidade técnica são outros quinhentos...

Caros leitores, não querem levar fumo no mercado? Então entrem na faculdade atrás de CONHECIMENTO ao invés do título, do diploma, pois este apenas lhe confere mais responsabilidade, mais deveres. E sem o conhecimento, vai levar chumbo grosso. Pessoas como eu estão aqui fora aguardando ansiosas por vocês, meus queridos. Hehehe

Mas sou obrigado a fechar este texto e o debate com dúvidas: Os arquitetos foram arquitetos do modernismo ou meros coadjuvantes? Ação ou reação?

Nenhuma área é mais modernista que a engenharia e suas vertentes ao meu ver. Dominaram a sociedade, ganham os melhores cargos, os melhores salários e as mais belas mulheres que a prosperidade e respeito podem atrair. (kkkk)

E todos agüentam firmes os engenheiros!!!
(Parafraseando um citação bastante utilizada por Tom Wolfe em “Da Bauhaus ao nosso caos”).

Mas a visão deles é limitada e extremista. A sociedade não pode mais ficar nas mãos de especialistas, somente generalistas possuem a visão de um todo, a capacidade de ligar pontos, identificar e gerenciar talentos dentro de uma equipe multidisciplinar sem entrar e cultivar conflitos de egos entre as partes, disputas e boicotes dentro da mesma equipe. E além de tudo, adequar periodicamente a missão de tal equipe com as novas demandas da sociedade assimilando tudo em uma só resposta, ou várias correlacionadas.

Sim! Não há mais espaço para dominação, monopólios, hegemonias, extremismos, colonialismos, imperialismos, intolerâncias, expansionismos, etc...
Menos é mais?
Nem menos, nem mais!
Meio termo é a manifestação da perfeição! Fato!!

Bora divagar sobre as questões ambientais...

A conferência ambientalista Rio 92 criou uma nova demanda na sociedade. Através da técnica de gerar polêmica e pânico na população implantaram uma percepção apocalíptica nas massas, foi um mal necessário, pois as pessoas só fazem mudanças mediante estímulos negativos.
Assim surgiu um termo muito forte nas campanhas de marketing, a SUSTENTABILIDADE e suas três vertentes: Ambiental, Social e Econômica. No início foi mais discurso retórico do que ações reais e contundentes, mas neste limiar a missão foi conscientizar a população criando em suas mentes tal preocupação. Mas agora se tornou real, novas profissões estão surgindo, as velhas estão passando por inovações incrementais, salvar o planeta se tornou um negócio lucrativo, movimenta a economia.

Sim! É possível lucrar fazendo o certo, esta é a grande sacada que está viabilizando aquilo que parecia até então utopia.

A geração Y nasceu num momento de transição entre analógico e digital, sofreu o forte impacto da mudança que a era da informação proporcionou, tanto pro bem, quanto pro mal. Houve uma quebra parcial dos paradigmas vigentes, um exemplo é o lidar como o dinheiro, este deixou de ser a coisa mais importante do mundo para passar a ser APENAS importante, necessidade básica, banal, cotidiana. Deixou de ser um deus ou demônio, deixou de ser tabu. As pessoas passaram a ver a possibilidade de ter prazer com o trabalho algo tangível, palpável. Como ganhar o dinheiro, principalmente sem afetar o ecossistema, passou a ser mais importante do que o volume dos resultados.

Contabilidade criativa, eis um termo interessante que escutei nestes áudios dos amigos acadêmicos da USP que gostei muito (aqui). Hoje estão levando em consideração o bem estar da equipe, o impacto no meio ambiente e muitos outros fatores além dos antigos para contabilizarem a lucratividade de uma empresa ou país.

Dentro de todo este contexto atual podemos concluir que qualquer desperdício de matéria prima, mão de obra, energia É CRIME! Fato!!!

Agradeço a todos que participaram do fórum e que me passaram conteúdos via Messenger. Não vou citar nomes porquê foi muita gente, além do fato que alguns poderiam não gostar disso, devo respeitar.

Santo André, 02 de Julho de 2017.




















Luiz Mariano 

AUTODIDATA apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, arte, debate, filosofia, etc...

Participem também de nossos grupos no Facebook:



domingo, 18 de junho de 2017

Do artesanal ao industrial, por Cezar Augusto

DO ARTESANAL AO INDUSTRIAL: DOIS MOMENTOS DA
CARPINTARIA NO BRASIL

FIGUEREDO, Cezar Augusto S. (1); CARRASCO, Edgar Vladimiro Mantilla (2)
1. Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
Rua Paraíba, 697 - Funcionários - Belo Horizonte - Minas Gerais – Brasil
136.arq@gmail.com
2. Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
Rua Paraíba, 697 - Funcionários - Belo Horizonte - Minas Gerais – Brasil
mantilla@dees.ufmg.br


RESUMO

A construção civil é um processo continuo de avanços tecnológicos e esses avanços impactaram
diretamente na prática da carpintaria. A introdução de novos materiais, novos tipos de madeira, novos tipos de ligação, a normalização técnica e os detalhamentos alteraram substancialmente o perfil do
mestre-carpinteiro e as técnicas de carpintaria utilizadas. Neste artigo abordaremos especificamente
o ofício da carpintaria tradicional, sua preservação, transmissão e sua práxis dentro do contexto atual de normalização técnica das estruturas de madeira e as práticas demandadas pela norma para execução de estruturas de madeira. O objetivo é pontuar as alterações tecnológicas na construção civil que impactaram na prática da carpintaria tradicional. Uma das alterações fundamentais foi a mudança do perfil do carpinteiro construtor para o de carpinteiro montador, alterando assim toda a lógica construtiva e de pensamento da carpintaria tradicional, que sob essa nova ótica perdeu suas
características principais de autonomia e de engenhosidade. A introdução da norma técnica de
estruturas de madeira e sua posterior revisão criaram critérios para o desenvolvimento o
desenvolvimento de projetos e promoveram sua industrialização e seriação.

Palavras-chave: Carpintaria; Técnicas Construtivas Tradicionais; História da carpintaria.

INTRODUÇÃO

A construção civil é um processo continuo de avanços tecnológicos e esses avanços impactaram
diretamente na práxis da carpintaria. A introdução de novos materiais, novos tipos de madeira, novos tipos de ligação, a normalização técnica e os detalhamentos alteraram substancialmente o perfil do
mestre-carpinteiro e as técnicas de carpintaria utilizadas.
Segundo VARGAS (1994), a indústria da Construção Civil no Brasil passou por pelo menos três
estágios sucessivos: o primeiro estágio é puramente técnico, com ausência de qualquer ciência
aplicada, limitando-se à adaptação de técnicas externas às condições locais. O Brasil passa por esse
estágio desde a sua descoberta até o início do século XIX, incorporando a técnica medieval e renascentista. O segundo estágio refere-se à aplicação de teorias e métodos científicos aos
problemas da técnica anteriormente estabelecida, o que ocorreu no Brasil a partir da criação das escolas militares e de engenharia, quando chegou ao Brasil a corte portuguesa. O terceiro estágio tem início quando aparecem, no começo do século XX, em São Paulo e no Rio de Janeiro, os institutos de pesquisas tecnológicas.
Neste artigo abordaremos especificamente o ofício da carpintaria tradicional, sua preservação, transmissão e sua práxis dentro do contexto atual de normalização técnica das estruturas de madeira
e as práticas demandadas pela norma para execução de estruturas de madeira. O objetivo é pontuar as alterações tecnológicas na construção civil que impactaram na prática da carpintaria tradicional.
Para isso, em lugar de fazermos uma analise histórica e linear da carpintaria, apontaremos sua
mudança a partir do seu processo produtivo, de artesanal para industrial, pautada pela criação da norma NB-11/1951 – Projeto e Dimensionamento de Estruturas de Madeira. Dessa forma os autores
GONZAGA (2006), FÍGOLE e GADELHA (2012), MARCHAND (2006), CARTER e CROMLEY (2005),
nos ajudam a entender e pontuar as questões relativas ao processo artesanal da carpintaria. Já os
autores ALBUQUERQUE (2007), LOGSDON (1997), MIOTTO (2006), MARQUES (2010) e KAPP
(2004) nos fornecem subsídios para analisar a produção industrial da carpintaria, baseadas na inserção da norma e suas novas demandas de produção.

A CARPINTARIA TRADICIONAL

A carpintaria tradicional é uma técnica que foi amplamente difundida e utilizada desde o Brasil colônia, originando um sem-número de edificações construídas a partir desse sistema construtivo. As qualidades intrínsecas da técnica saltam aos olhos ao observarmos que as estruturas produzidas mantém sua qualidade e desempenho mesmo séculos depois de terem sido construídas.
A permanência, aprendizagem, transmissão e aplicação das técnicas tradicionais de construção é um fator assegurador da conservação do patrimônio cultural construído. O domínio dos materiais e sistemas construtivos antigos garante subsídios para o restauro, manutenção de edificações antigas e permite difundir as práticas construtivas vernáculas, salvaguardando mais que simplesmente o objeto íntegro construído, mas a práxis, o arte-fazer, que envolve a produção desse objeto.
Essas técnicas tradicionais, seus processos criativos e sua práxis características recentemente tem
chamado a atenção dos órgãos e institutos de patrimônio, dando origem a diversas ações no intuito
do reconhecimento, catalogação e da preservação desse patrimônio, denominado intangível ou
imaterial. Diversas ações no sentido de ensino, preservação e transmissão dessas técnicas
tradicionais vem sendo desenvolvidas.

O Brasil possui, hoje, dezenove sítios históricos considerados Patrimônio Histórico e Cultural da
Humanidade, entre os mais de seiscentos eleitos pela UNESCO em todo o mundo. Dentre as áreas
podemos ressaltar os seguintes sítios: Centro Histórico de Goiás (GO), Diamantina (MG), Olinda
(PE), Ouro Preto (MG), Centros Históricos de São Luís (MA) e de Salvador (BA), que possuem
edificações construídas utilizando estruturas de madeira, principalmente em suas coberturas. No Brasil as coberturas em estruturas de madeira foram inseridas no período colonial, com a chegada dos primeiros exploradores. As construções nesta época utilizavam os materiais existentes na região. Parte relevante do conjunto de edificações de valor cultural que se preserva no Brasil é constituído
por construções que fazem uso de estruturas de madeira, sobretudo em suas coberturas, ressaltando
a importância da preservação da carpintaria tradicional, que tem nas sambladuras um elemento
chave de sua característica construtiva “O conhecimento técnico do corte e do entalhe que detinham os colonizadores portugueses juntou-se à sabedoria dos indígenas quanto às características das madeiras nativas, criando uma cultura bastante específica.” (Gonzaga, 2006, p.11).
A carpintaria tem no século XVII e XVIII, no Brasil, papel preponderante na construção civil, sendo técnica construtiva amplamente utilizada, sobretudo pela abundância de madeiras e por ser uma técnica relativamente fácil de ser aprendida e transmitida, dando origem a artífices da madeira, que
transmitiam conhecimento de geração para geração.
Apesar de técnica popular e de uso extensivo, há grande dificuldades em encontrar bibliografias que
apresentem técnicas construtivas de telhados no Brasil anteriores ao período Imperial. Talvez o
registro mais importante dessa técnica construtiva seja o livro de Santos (1951) em que o autor
apresenta detalhadamente com descrições e desenhos as estruturas de madeira de telhados de diversas igrejas de Ouro preto do período Colonial.
No século XIX já encontramos publicações de manuais em que se apresentam registradas as
técnicas construtivas de carpintaria tradicional empregadas na construção de telhados em Portugal e
no Brasil. Os livros do engenheiro João Emilio dos Santos Segurado apresentam o registro de
detalhes executivos de vários elementos construtivos. Um livro especial: “Trabalhos de Carpintaria Civil” apresenta detalhes de execução e elementos de madeira, sobretudo os de estruturas de telhados coloniais. Dentre as diversas informações apresentadas como dimensões e angulações do madeiramento, tipologias de tesouras, destacam-se os detalhamentos dos encaixes estruturais entre as peças de madeira dos telhados, denominadas sambladuras.
A sambladura na carpintaria é a técnica de recorte ou entalhes na madeira para junção ou encaixe de duas ou mais peças. Podem ser simples ou extremamente intrincadas e complexas. Essas
sambladuras tem em sua engenhosidade técnica para solucionar encaixes estruturais na madeira um grande valor arquitetônico e revelam o saber-fazer do mestre carpinteiro que a executou: demonstrando suas habilidades e inteligência na resolução desses nós estruturais, muitas vezes através de soluções únicas e em sua quase totalidade criadas em canteiro.

Dado esse contexto, presume-se que o ofício de mestre-carpinteiro estabeleceu-se historicamente
não somente envolvendo cortar, desdobrar e talhar a madeira para a construção, mas também
desenvolver soluções técnicas capazes estruturar e garantir a durabilidade da construção. Mais que um fazer técnico, a carpintaria tradicional envolve um fazer intelectual, um engenho na concepção de soluções apropriadas a cada situação diferente para a eficiência dos sistemas estruturais e construtivos, como observa Fígoli e Gadelha (2012) ao descrever o relato do mestre-carpinteiro José
Geraldo Rosa sobre seu ofício:
Segundo ele (José Geraldo Rosa), o resultado dos trabalhos em carpintaria não se diferencia de um profissional para outro, mas as técnicas usadas pelos carpinteiros são diferenciadas, e implicam em bons resultados ou não.
“Ninguém fica a olhar os detalhes. Depois de coberto, tudo é telhado, está tudo bonitinho. Agora, os detalhes de execução do trabalho, a segurança, a durabilidade é que vem depois. Então, frechais encaixados, tesouras encaixadas, cachorros encaixados, espigões, tudo encaixadinho na cumeeira, nos frechais, isso é que é o espírito de durabilidade do telhado. E
muitas vezes, isso não acontece, porque muitos carpinteiros chegam com uma peça na outra e bate prego. E amanhã, o telhado trabalha muito, aí começa: abre num canto um pouquinho, puxa no outro. Às vezes a carga de
um lado tá mais do que no outro, aí, aquele troço vai desequilibrando e o
telhado começa aí: selando, abrindo, empurrando parede (...)” (Fígoli e Gadelha, 2012, p.120).
Marchand (2006) reforça esse conceito de um fazer intelectual do mestre-artífice ao ressaltar no
objeto construído o valor não somente do ‘produto’ mas, sobretudo do ‘processo’ de produção desse produto, que é parte fundamental na construção do patrimônio é constituído pela expertise, pelas qualificações e conhecimento das pessoas – fruto das relações sociais e transmissão de tradições e conhecimentos. Mais que a técnica envolve o entendimento de todo o contexto produtivo do objeto.

PRODUÇÃO ARTESANAL DA CARPINTARIA

A partir do entendimento da carpintaria tradicional e das questões intrínsecas a sua prática, é importante, portanto pontuar a produção artesanal da carpintaria. Essa produção corresponde à
produção de edificações do Brasil Colônia. A partir do primeiro século XVII, tornam-se cada vez mais numerosas as construções de madeira, em pau-a-pique, inclusive casas particulares, feitas
artesanalmente, sem nenhum plano formal, às vezes pelo próprio morador ou seus vizinhos e amigos.
Quanto às edificações não militares ou religiosas no período colonial a atividade construtiva consistiu principalmente na execução de edificações residenciais, nas propriedades rurais e nas cidades, as
quais se caracterizavam pela uniformidade de plantas e técnicas construtivas.
Castritota (2012) ressalta a mudança no entendimento do patrimônio não como um produto, mas como um processo, uma práxis que agrega os objetos, artefatos e espaços culturais que lhes são inerentes.
“a importância que têm os processos de criação e manutenção do conhecimento sobre o seu produto (a festa, a dança, a peça de cerâmica,
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro por exemplo). Ou seja, procuram enfatizar que interessa mais como patrimônio o conhecimento, o processo de criação e o modelo, do que o
resultado, embora este seja sua expressão indubitavelmente material”.
(MINC/IPHAN, 2003, p. 17).
Nesse conceito ampliado que se situa a carpintaria artesanal, que carrega consigo as práticas, o
saber-fazer de técnicas construtivas tradicionais, importante patrimônio imaterial a ser preservado para assegurar a conservação do patrimônio cultural construído. O domínio dos materiais e sistemas construtivos antigos garante subsídios para o restauro, manutenção de edificações antigas
e permitem difundir as práticas construtivas vernáculas, salvaguardando mais que simplesmente o objeto construído, mas a práxis, o arte-fazer, que envolve a produção desse objeto.
Mais que um objeto o edifício é produto de um processo, processo no sentido de um conhecimento
processual e de transmissão desse conhecimento. Marchand (2006) demonstra o papel dos
construtores tradicionais na produção do ambiente construído, na significação desse espaço, nas
relações sociais e no sentido de segurança que eles dão ao espaço. Mais que agentes da técnica
esses construtores são agentes sociais do espaço.
Essas práticas e processos não são tangíveis, mensuráveis, mas são uma ‘experiência sensível’,
repassáveis, constituindo um processo dinâmico de regeneração e reprodução do processo, gerando
uma tradição carregada de valores simbólicos e que sobrevive através do tempo.
Um fator relevante a ser considerado na carpintaria artesanal é a inexistência do projeto ou de um
profissional do projeto na concepção e execução das obras durante esses períodos. Isso eleva o trabalho do carpinteiro para além do trabalho manual para um trabalho intelectual, ficando delegado ao mestre-carpinteiro o papel de conceber e executar as sambladuras, baseado no empirismo, na expertise e na experimentação. O mestre-carpinteiro propunha soluções de encaixes diversos e criativos para solucionar as demandas de estruturação das coberturas. Essas soluções encontram-se
presente até hoje, preservadas em coberturas dos séculos XVII e XVIII, conferindo a elas qualidades técnicas executivas e dota de um valor cultural preponderante a pratica técnico-criativa desses
artífices e mestres da carpintaria, constituindo sua práxis como um arte-fazer, uma pratica vernácula
dotada de uma qualidade artística, mais que um saber-fazer é um exercício intelectual, dotado de
valor artístico do ofício.
Nesse aspecto Carter e Cromley (2005) contribuem ao entendimento da importância do vernáculo o definindo como o estudo das ações humanas e comportamentos que se manifestam na arquitetura
comum, salientando que esse entendimento permite conhecer e explicar as ideias valores e crenças, a cultura que permeia esse objeto.
A carpintaria artesanal é historicamente estabelecida, portanto, como uma práxis autônoma, no sentido de autonomia abordada por Kant (1922) onde o mestre-carpinteiro é dotado tanto do direito
quanto da capacidade de dar a si mesmo a própria norma (Kapp, 2004, p.97), uma vez que sua prática é fundamentada nos seus processos pessoais de decisão construtiva, onde sua experiência,
conhecimentos e engenhosidade são seus esteios na execução das obras, em um contexto onde as
formalidades projetuais, como o desenho, o projetista não existe, cabendo ao próprio artífice o papel de executor e a concepção intelectual da estrutura.
Preservar o ofício da carpintaria tradicional, em sua essência histórica, não é preservar somente um fazer técnico, o conhecimento da madeira, dos encaixes e de sua trabalhabilidade, mas preservar o
fazer intelectual associado a essa prática, preservar a autonomia historicamente ali presente. A
transmissão e aprendizagem desse conhecimento construtivo tem um papel fundamental e
incalculável para se pensar nas questões que envolvem a conservação e preservação do ofício da carpintaria tradicional.

A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DA CARPINTARIA

No oposto da autonomia encontra-se a heteronomia, que é um conceito criado por Kant para
denominar a sujeição do individuo à vontade de terceiros ou de uma coletividade. Opõe-se assim ao
conceito de autonomia. Dentro do contexto de produção de objetos que está sendo abordado, pode-
se associar a heteronomia a existência de uma ferramenta externa ao mestre-canteiro que regule a ação deste, dissociando atividade intelectual e fazer manual ou nas palavras do Sr. José Geraldo “a mão faz aquilo que a cabeça manda” (Fígoli e Gadelha, 2012 p.122).
Conhecimentos com base científica começaram a ser introduzidos na construção de edificações nas
décadas de 1920 e 1930, passando a serem incorporados tanto no projeto como na produção de
materiais e componentes. O suporte tecnológico para este estágio de desenvolvimento foi prestado pelo “Laboratório de Ensaios de Materiais (LEM), ligado à Escola Politécnica de São Paulo, pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), no Rio de Janeiro e também pela Associação Brasileira deNormas Técnicas (ABNT).
A especialização das profissões e o estabelecimento de hierarquias e qualificações técnicas criaram
profissionais habilitados a projetarem e conduzirem a execução dessas estruturas de madeira outrora idealizadas e resolvidas em canteiro. Arquitetos e engenheiro apoderaram-se do fazer intelectual referente às coberturas e estruturas de madeira. Como parte do processo de regulamentação e padronização de requisitos de desempenho foram estabelecidas normas técnicas.
Uma norma técnica serve para definir regras mínimas de segurança e qualidade para se produzir algo
ou realizar um determinado serviço. Uma norma é elaborada por profissionais que discutem sobre todos os itens que a compõe, realizando ensaios experimentações e modelos para atestar a eficiência
dos seus requisitos. A primeira norma técnica referente a estruturas de madeira data de 1982, denominada NB-11. Em 1997 ela foi reformulada, alterando todo seu conteúdo e a metodologia de dimensionamento e detalhamento das estruturas de madeiras, gerando a NBR 7190/97. Logsdon (1997) sinaliza as melhorias e evolução apresentada pela norma enfatizando os ganhos obtidos no novo sistema de dimensionamento das estruturas de madeira.
A partir da NB-11 ocorre a normalização dos projetos de estruturas de madeira que prescreve critérios para o dimensionamento de sambladuras. Com a adoção desses critérios configuram-se dois
campos distintos que determinam práxis distintas: uma práxis que denominaremos autônoma, que é
baseada no saber-fazer e que carrega na sua gênese as questões abordadas da carpintaria
tradicional, e outra práxis, que chamaremos de normalizada, que é baseada na execução dos
projetos realizados sob a luz da norma técnica e que apesar de carregar ainda o fazer técnico não
permite a expressão criativa do artífice que a executa.
Por essa época houve também a introdução de novos equipamentos e ferramentas que visavam o aumento da produtividade do setor. A incorporação da ciência ao processo de produção deslocou o
“domínio do saber”, que era do trabalhador, para a engenharia e arquitetura. No entanto, esse
deslocamento não atingiu o modo de executar as atividades no canteiro de obras, que continuou sob o controle dos operários.
A prática normalizada da carpintaria no decorrer de sua evolução passa a incorporar novos elementos de ligação entre as peças, novos materiais e novas madeiras, advindos da própria evolução e industrialização da construção civil. Ligações por entalhe passam a serem substituídas por ligações
metálicas, pinos, colas e outras tecnologias, a madeira antes coletada e desdobrada, passa a ser
fornecida aparelhada, oriunda de espécies cultivadas em manejo controlado. O desenho, projeto
detalhado, passa a protagonizar o canteiro e os nós estruturais e ligações deixam de ser pensados e
resolvidos na obra e passam a ser resolvido e solucionado em etapas anteriores, através de
desenhos técnicos. Não mais a experimentação e o engenho estão presente nas soluções de
ligações, mas o atendimento a metodologias de projeto e dimensionamento, o que de certa forma reduz a variabilidade de soluções, padronizando e seriando as possibilidades de resolução desses nós. Mesmo quando inventivas essas ligações são projetadas fora do canteiro, a partir de conhecimentos que não são exatamente o ‘saber-fazer’ do mestre-carpinteiro.
É possível subsumir uma nova perspectiva construtiva advinda desse contexto: a seriação da
produção em canteiro, de tal forma que o carpinteiro deixou de ser um executor e passou a ser um
montador. A introdução do projeto e a lógica industrial substitui o carpinteiro que extraia a madeira, a beneficiava e construía, pelo carpinteiro que interpreta a linguagem do projeto, dialoga com
fornecedores e monta a cobertura a partir dos materiais recebidos já pré-dimensionados e
beneficiados.
A formação desse novo perfil de mestre-carpinteiro impacta diretamente nas questões que
concernem à preservação e continuidade do arte-fazer tradicional. Fígoli e Gadelha (2012) sinalizam que o ofício da carpintaria é transmitido ou hereditariamente ou através do ensino de aprendizes,
através do acompanhamento e auxílio do mestre-artificie no seu trabalho. Dessa forma novos
carpinteiros são formados já inseridos e treinados dentro dessa práxis normalizada, onde a
inventividade e autonomia do artificie dão lugar ao tecnicismo e montagem e soluções pré-
cocarpintaria.
Outro ponto importante a levantar é que apesar das práxis distintas (autônoma e normalizada), é
importante perceber que seus atores, nos dias de hoje, são os mesmos: os mestres-carpinteiros que hora trabalham no canteiro da indústria da construção civil, são os que em outros momentos
produzem a práxis autônoma, dissociada de projeto e normas. A prática autônoma da carpintaria hoje em dia acontece geralmente em processos de autoconstrução ou autogestão, onde a figura do
arquiteto ou engenheiro não existe e dá lugar ao trabalho livre de construtores, carpinteiros e
moradores, numa dinâmica colaborativa e saberes livres que se apropriam das condicionantes
existentes, como materiais disponíveis, para produção das construções. A autora Marques (2010) aponta que na autoconstrução as restrições econômicas conduzem os construtores a uma regra do
jogo que é sempre no sentido de se fazer o que puder com aquilo que se tem nas mãos, ou seja, um
conjunto de ferramentas heterogêneo e finito, a partir do que Levi Strauss (1989) nomeou
‘”pensamento selvagem” onde os processos criativos e tecnológicos são compelidos pelos materiais
disponíveis.
É relevante observar que como Carter e Cromley (2005) apontam, esses artificies incorporam em
suas práxis autônomas as tecnologias industrializadas utilizadas nos canteiros de obras em que trabalham, mas de uma forma diferente, utilizando esses materiais como matéria para soluções construtivas associadas aos materiais disponíveis. Dessa forma a carpintaria tradicional aos poucos foi incorporando novas ligações, madeiras e formas de construir. O resultado é que ainda que a carpintaria como ofício, tenha resistido ao tempo e chegado aos dias de hoje com diversos profissionais atuando, as técnicas de sambladura foram sendo substituídas por outros tipos de ligações e novas formas de produção das estruturas de madeira.
Tinoco (2013) alerta que apesar de milenares e sua larga presença nas edificações antigas poucos
profissionais hoje dominam a técnica de sambladura. Isso justifica esforços como o empreendido pelo Iphan no intuito de registrar os mestres e as técnicas tradicionais de carpintaria na publicação Ofícios
(2012), e as recorrentes oficinas de ensino de carpintaria. Diversas ações de educação patrimonial,
no sentido de ensino de técnicas construtivas tradicionais, têm sido empreendidas no intuito de
salvaguardar esse saber fazer tradicional, uma vez que a carpintaria apesar de ser técnica presente e difundida nos dias atuais teve suas características alteradas e o que temos hoje é um carpinteiro com
conhecimentos dicotômicos em relação aos carpinteiros tradicionais. Carecem, portanto do ensino e da aprendizagem das técnicas tradicionais de carpintarias que inclui, sobretudo, as sambladuras.

CONCLUSÃO

Ao analisar, portanto as questões que perpassam a o arte-fazer autônomo da carpintaria tradicional, encontramos diversos entraves para a manutenção e transmissão desse ofício. A mudança do
paradigma construtivo, a inserção do desenho no canteiro a utilização de novos materiais e novos encaixes contribuíram para alterações profundas na práxis da carpintaria e no perfil do mestre-
carpinteiro. Uma das alterações fundamentais foi à mudança do perfil do carpinteiro construtor para o de carpinteiro montador, alterando assim toda a lógica construtiva e de pensamento da carpintaria tradicional, que sob essa nova ótica perdeu suas características principais de autonomia e de
engenhosidade.
A introdução da norma técnica de estruturas de madeira e sua posterior revisão criaram critérios
estanques para o desenvolvimento o desenvolvimento de projetos. Esses critérios deslocaram o
‘saber-fazer’ do mestre carpinteiro e suas experimentações em canteiro para o território hermético do projeto e dos roteiros de dimensionamento, que produzem via-de-regra soluções estandardizadas para estruturas e ligações de madeira. Aliado a isso de uma forma geral as ligações produzidas autonomamente pelos mestres carpinteiros apresentam inúmeras inadequações em relação à norma, porém a falta de adequação, não levou as estruturas antigas ao colapso, podendo-se concluir também que, a norma NBR 7190/97 pode ser considerada uma norma conservadora, em relação aos
coeficientes de segurança, como aponta Albuquerque (1997), que estudou diversas ligações
artesanais a partir dos parâmetros introduzidos pela norma técnica.
Essas relações conflitantes entre prática tradicional da carpintaria e a normalização demonstram que
é preciso aliar esse arte-fazer próprio do ofício a norma técnica e aos projetos desenvolvidos sob
seus critérios. A preservação desse ofício perpassa pelo entendimento da importância da prática de
carpintaria historicamente estabelecida: da figura do carpinteiro dotado da capacidade de decisões técnicas e soluções construtivas das sambladuras, um arte-fazer do próprio mestre-carpinteiro e, sobretudo a adequação das práticas demandadas pela norma que se mostra contraproducente à
práxis tradicional de carpintaria.


Referências Bibliográficas

ALBUQUERQUE, Renata Braga de; PEREIRA, Sebastiao Salvador Real; CHAUD, E. . Sambladuras
em telhados com estrutura de madeira tipo Howe em Belo Horizonte. Revista Madeira, v. 1, p. 1-14,
2007.
CARTER, Thomas; CROMLEY, Elizabeth C. Invitation to Vernacular Architecture: A Guide to the
Study of Ordinary Buildings and Landscapes, Volume 6, de Perspectives in Vernacular Architecture
Vernacular architecture studies series. Univ. of Tennessee Press, 2005, 120 pgs.
CASTRIOTA, Leonardo B. O Registro dos Mestres Artífices: Preservação do saber fazer da
construção tradicional. In: CASTRIOTA, Leonardo B. Mestres Artífices da Construção Tradicional –
Minas Gerais, 2010. IPHAN/Monumenta, p. 23-36.
FÍGOLI, H. L.; GADELHA, D. F. Ofícios: Permanências e transformações. In: CASTRIOTA, Leonardo
B.. Mestres Artífices da Construção Tradicional – Minas Gerais. IPHAN/Monumenta, 2010. p. 55-144.
GONZAGA, Luiz A. Madeira: Uso e Conservação. Cadernos Técnicos do Programa Monumenta.
Brasília: Programa Monumenta, 2005.
LOGSDON, N. B. ; BARALDI, L. T. Dimensionamento de elementos estruturais submetidos à
compressão paralela – uma discussão da NBR 7190/97. In: ENCONTRO BRASILEIRO EM
MADEIRAS E EM ESTRUTURAS DE MADEIRA, 6.,1998, Florianópolis. Anais... Florianópolis, UFSC-
IBRAMEM. v.2, p.157-168.

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL (IPHAN/BRASIL). CURY,
Isabelle (org.). Cartas patrimoniais. 3. ed., rev. e aum. Brasília: IPHAN, 2004. 408p. (Edições do
patrimônio).
KANT, I. Die Religion innerhalb der Grenzen der blossen Vernunft. Leipzig: Felix Meiner, 1922.
KAPP, S. Autonomia heteronomia arquitetura. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte,
v. 10, n. 11, 2004, p.95-105.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento selvagem, São Paulo, Papirus, 1989.
MARCHAND, Trevor H. J. — The Masons of Djenne. Bloomington-Indianapolis, Indiana University
Press, 2006, 352 p.
MARQUES, Monique Sanches. Subjetividades e singularidades urbanas: na construção de um “devir”
outro arquiteto urbanista. 291 fls. Tese – Universidade Federal da Bahia. Salvador, 16 de Abril de
2010.
MIOTTO, José L; DIAS, Antônio A. Reforço e recuperação de estruturas de madeira. In: Seminário:
Ciências Exatas e Tecnológicas, 2006, Londrina, v. 27, nº 2, p. 163-174.
SANTOS, Paulo F. A arquitetura religiosa de Ouro Preto. Rio de Janeiro, Kosmos, 1951.
SEGURADO, João Emílio dos Santos. Trabalhos de Carpintaria Civil. 7 ed. Lisboa: Imprensa
Portugal-Brasil, [S.D.].
TINOCO, Jorge E. L., Boas práticas gestão de restauro. Olinda: CECI, 2013
VARGAS, Milton. Para uma filosofia da tecnologia. São Paulo: Alfa - Omega, 1994.

Grupo do Facebook: Marcenaria BRASIL