domingo, 2 de julho de 2017

Tamponamento é crime!

Postei uma provocação/brincadeira no grupo Marcenaria BRASIL associando tamponamento, história da arquitetura e preocupação ecológica e os camaradas piraram. (Gargalhadas espalhafatosas e sinceras, kkkk).

Eis o limiar do CAOS:

“[Modernismo ON]: Tamponamento é crime!
Tapa-furo adesivo é honestidade!!
Vamos deixar as estruturas, os métodos construtivos, as ferragens à mostra!!!
Façamos das supostas falhas algo banal, cotidiano... Característica da matéria prima em questão: MDF e MDP!!!! Amem! Kkkkkkk”

O que é tamponamento?


















Tamponamento em resumo é a jogada estética, que caiu no gosto da classe média, de
revestir a caixaria dos armários com outra chapa, literalmente um caixote dentro do outro, e o tamponado cobre o topo das portas e frente de gavetas deixando-os embutidos.
A moda ainda vigente é utilizar chapa de 25mm no tamponamento, como as marcenarias possuem uma folclórica repulsa ao MDP por causa da má fama que tal matéria prima herdou do aglomerado, eis que utilizam MDF que possui quase o triplo do peso do MDP agravando ainda mais a problemática podendo ocasionar problemas de saúde nos trabalhadores.

Mas alguns já andaram experimentando tamponados de 18mm, 15mm e 9mm para proporcionar maior leveza, e outros até ensaiaram fazer rebaixos nos topos da caixaria interna de 18mm, porém tal técnica complica o fitamento das bordas entrando em conflito com as coladeiras existentes, anulando assim os benefícios da economia do matérial.
Tamponamento é um desperdício de material em prol de uma estética totalmente antagônica às preocupações atuais de salvar o planeta e o uso consciente dos recursos naturais. Isto abre uma nova demanda, um desafio, aos designers de produto em desenvolver novas jogadas, novas ferragens, alguma coisa que substitua o tamponado.

Tal jogada possui sim uma desculpa técnica além da estética, ocultar sistemas de montagem simples como parafuso de topo, anulando assim a necessidade de utilizar tapa-furo adesivo, por isso que provoquei dizendo que tapa-furo é honestidade, pois é um elemento criado exatamente para esta matéria prima contemporânea, MDF e MDP, que assume sua característica, admite suas falhas, limitações. O material já vem revestido, com acabamento, não dá pra ocultar parafusos com o revestimento como fazíamos na Marcenaria Tradicional (compensado, fórmica - laminados melanímicos de alta pressão, folhas, seladora, verniz, madeira maciça, etc.).

Sim! Existem vários sistemas de montagem que substituem o parafuso de topo com louvor ocultando as ferragens como Girofix, VB, Rastex, Rotofix, Everfix, etc (pesquisem)... Mas foquei a provocação no sistema mais simples que é utilizado pela maioria das pequenas marcenarias e autônomos de plantão. E mesmo utilizando tais sistemas as marcenarias e fabricantes de modulados continuam a tamponar, pois isso se tornou um padrão estético em móveis de médio e alto padrão.

Por outra ótica, muitos marceneiros, fabricantes, designers e arquitetos já estão deixando isto de lado e buscando novos diferenciais... Apostar em ferragens modernas como corrediças invisíveis com amortecimento, aramados, gavetas pré-fabricadas, etc... Servo Drive, Aventos, Sistema Coplanar...  Revestimentos como Silestone e Corian substituindo os granitos... Eletrodomésticos, eletrônicos, automação... Matérias primas alternativas e sustentáveis em geral...
Entre gastar dinheiro com tamponamento ou qualquer outra destas opções, eu como cliente vou optar por qualquer outra alternativa sem questionar questões pseudo ecológicas, não seria necessário tal nobre apelação para me convencer. Fato!


No que a História da Arquitetura entrou nisso?

O próprio título já está associado ao manifesto modernista “Ornamento e Crime” do Arquiteto Austríaco Adolf Loos, 1910, onde ele explica sua fervorosa aversão ao ornamento supérfluo. E segue fazendo apologia a um dos maiores fundamentos do modernismo na arquitetura de não gastar material e trabalho para ocultar estruturas, uma total fuga do simulacro, da cenografia copista de manifestações estéticas anteriores.

Depois da provocação/brincadeira inicial que abriu o tópico passei a utilizar um discurso autocrata, tirânico, para defender a idéia de anular o TAMPONAMENTO da face da Terra, criminalizando-o, demonializando-o, assim como os Modernistas Capitalistas Extremistas da Geração X e gerações anteriores fizeram e ainda fazem, ridicularizando, diminuindo, perseguindo, julgando e punindo qualquer pessoa que fique contra suas idéias, suas convicções, suas certezas.

Como no tópico anterior, em “O Fim da Tirania Arquitetônica” eu tinha atacado veemente tal postura autocrata do modernismo, neste outro tópico me utilizei contraditoriamente de tal  antagônica abordagem, eis que mesmo com as dicas estampadas, os arquitetos participantes do debate demoraram muito para entender a brincadeira, nisso seus EGOS já se afetaram e o CAOS tomou conta de suas almas apaixonadas. Hehehe

Os modernistas sempre tiveram certos, apenas a abordagem autocrática pode ter sido equivocada... Este debate apenas corroborou com minhas críticas à postura modernista/capitalista da geração X que tenta oprimir os mais jovens e seus impulsos criativos. Costumo dizer que mudar a garrafa de café de lugar não é tarefa fácil.

Porém... A grande contradição nisso tudo é que o que está fomentando a crescente atuação da geração Y e Z são as idéias da geração X. Tipo... Era só discurso crianças, não era pra tentar colocar em prática, KCT. Jesus, Maria e José... Criamos monstros! Kkkk

Os mais atentos e estudiosos podem alegar que a postura autocrática do modernismo em seu limiar foi fundamental, um mal necessário, pois uma postura democrática só funciona com espíritos mais elevados, e mesmo assim demanda maior tempo com magros resultados.
Sempre fui muito criticado por ser autodidata e levantar temas complexos em ambiente virtual. Porém em verdade vos digo: A história da arquitetura não pertence aos arquitetos, e sim à humanidade. Ninguém pode impedir um cidadão comum de consumir tal informação e aplicar seus conceitos, seja no discurso, seja na prática do seu trabalho, desde que não entre em conflito com as convenções das classes regulamentadas.

Conceituar é um privilégio de TODOS!
Responsabilidade técnica são outros quinhentos...

Caros leitores, não querem levar fumo no mercado? Então entrem na faculdade atrás de CONHECIMENTO ao invés do título, do diploma, pois este apenas lhe confere mais responsabilidade, mais deveres. E sem o conhecimento, vai levar chumbo grosso. Pessoas como eu estão aqui fora aguardando ansiosas por vocês, meus queridos. Hehehe

Mas sou obrigado a fechar este texto e o debate com dúvidas: Os arquitetos foram arquitetos do modernismo ou meros coadjuvantes? Ação ou reação?

Nenhuma área é mais modernista que a engenharia e suas vertentes ao meu ver. Dominaram a sociedade, ganham os melhores cargos, os melhores salários e as mais belas mulheres que a prosperidade e respeito podem atrair. (kkkk)

E todos agüentam firmes os engenheiros!!!
(Parafraseando um citação bastante utilizada por Tom Wolfe em “Da Bauhaus ao nosso caos”).

Mas a visão deles é limitada e extremista. A sociedade não pode mais ficar nas mãos de especialistas, somente generalistas possuem a visão de um todo, a capacidade de ligar pontos, identificar e gerenciar talentos dentro de uma equipe multidisciplinar sem entrar e cultivar conflitos de egos entre as partes, disputas e boicotes dentro da mesma equipe. E além de tudo, adequar periodicamente a missão de tal equipe com as novas demandas da sociedade assimilando tudo em uma só resposta, ou várias correlacionadas.

Sim! Não há mais espaço para dominação, monopólios, hegemonias, extremismos, colonialismos, imperialismos, intolerâncias, expansionismos, etc...
Menos é mais?
Nem menos, nem mais!
Meio termo é a manifestação da perfeição! Fato!!

Bora divagar sobre as questões ambientais...

A conferência ambientalista Rio 92 criou uma nova demanda na sociedade. Através da técnica de gerar polêmica e pânico na população implantaram uma percepção apocalíptica nas massas, foi um mal necessário, pois as pessoas só fazem mudanças mediante estímulos negativos.
Assim surgiu um termo muito forte nas campanhas de marketing, a SUSTENTABILIDADE e suas três vertentes: Ambiental, Social e Econômica. No início foi mais discurso retórico do que ações reais e contundentes, mas neste limiar a missão foi conscientizar a população criando em suas mentes tal preocupação. Mas agora se tornou real, novas profissões estão surgindo, as velhas estão passando por inovações incrementais, salvar o planeta se tornou um negócio lucrativo, movimenta a economia.

Sim! É possível lucrar fazendo o certo, esta é a grande sacada que está viabilizando aquilo que parecia até então utopia.

A geração Y nasceu num momento de transição entre analógico e digital, sofreu o forte impacto da mudança que a era da informação proporcionou, tanto pro bem, quanto pro mal. Houve uma quebra parcial dos paradigmas vigentes, um exemplo é o lidar como o dinheiro, este deixou de ser a coisa mais importante do mundo para passar a ser APENAS importante, necessidade básica, banal, cotidiana. Deixou de ser um deus ou demônio, deixou de ser tabu. As pessoas passaram a ver a possibilidade de ter prazer com o trabalho algo tangível, palpável. Como ganhar o dinheiro, principalmente sem afetar o ecossistema, passou a ser mais importante do que o volume dos resultados.

Contabilidade criativa, eis um termo interessante que escutei nestes áudios dos amigos acadêmicos da USP que gostei muito (aqui). Hoje estão levando em consideração o bem estar da equipe, o impacto no meio ambiente e muitos outros fatores além dos antigos para contabilizarem a lucratividade de uma empresa ou país.

Dentro de todo este contexto atual podemos concluir que qualquer desperdício de matéria prima, mão de obra, energia É CRIME! Fato!!!

Agradeço a todos que participaram do fórum e que me passaram conteúdos via Messenger. Não vou citar nomes porquê foi muita gente, além do fato que alguns poderiam não gostar disso, devo respeitar.

Santo André, 02 de Julho de 2017.




















Luiz Mariano 

AUTODIDATA apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, arte, debate, filosofia, etc...

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7 comentários:

  1. Show de Bola man! Seu artigo está muito bom!

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  2. O Luiz! Ótimo artigo. Estou entrando agora nessa área de marcenaria e tb nunca vi muita lógica em fazer tamponamento. Como vc falou é um procedimento construtivo que aumenta o custo da produção o móvel fica super pesado. Hoje com dispositivos como o mini-fix já é possível não ter essa furacão aparente e colocando a porta já embutida no módulo temos o mesmo resultado visual (ou estou enganada?).

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    1. Fico contente que tenha gostado, e sua visão está correta.

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  3. Já filosofei bastante e sobre muitas coisas, escrevi algumas vezes. Posso dizer que "meio" desisti de externar este universo de pensamentos, até para corrigí-los, aprimorá-los com novas perspectivas. Há um mar de confusões, desejos imediatistas e muitas certezas, vaidades exacerbadas e pouca capacidade ao diálogo. Pouca gente compreende que o debate de idéias não é uma disputa, na verdade é o contrário, todos ganham e no fim não se trata de ter razão ou não, trata-se do aprimoramento da própria espécie, em sí mesma e com o ambiente que vive. Lí o texto todo, o que certamente é sinal de qualidade. Há lógica,é um discurso coeso, bem estruturado, em que os argumentos são construídos com cuidado, amarrando as pontas de forma que a conclusão seja "fato", coisa de gente preparada e inteligente. Duas coisas importantes; a um, é inegável que os especialistas fizeram e fazem a evolução tecnológica das sociedades, entretanto não dá para dizer que geraram "evolução" de fato para a espécie humana, por isso como generalista que sou, já que entendo o "conhecimento" como livre, comungo da mesma idéia, que os generalistas sáo o caminho.... A dois, "as mulheres bonitas", há que dádiva sobre a terra, de todas as cores, de vários formatos, com variados humores.... Crime é construir um discurso assim e ao final, como golpe de misericórida, invoca logo este universos maravilhoso. Parabens pelo texto.

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  4. Essas corrediças super altas, utilizadas em portas embutidas foram inventadas a pouco tempo? Por que os móveis mais antigos que eu vejo são em grande parte tamponados. Acho caro e fica feio ao meu ver, quando abro a porta e vejo que tem uma caixa dentro da outra.

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    1. Essas dobradiças e esta jogada existe há décadas.

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    2. Creio que tenha sido eu quem comentou acima. Depois disso, eu fiz meus móveis da cozinha e fiz uma caixa comum + portas embutidas e ficou mto bom.

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